Médico cubano é certificado como cidadão brasileiro

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Médico cubano é certificado como cidadão brasileiro

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Em reunião no rotary o médico desfraldou o pavilhão nacional -( Foto Divulgação/Mais FM)

“Verás que um filho teu não foge à luta”, foi com essas palavras do hino nacional brasileiro que o médico cubano Dr. Jorge Madrigal Azcuy tornou pública a conquista do certificado de cidadão nacional. O cubano está radicado no Brasil há 15 anos, com família constituída por meio de casamento e filhos, fatores cruciais para o concessão do documento, entregue oficialmente no último dia 29, na 1ª Vara da Justiça Federal do Ceará no Fórum Presidente Castelo Branco, em Fortaleza.

O jornal A Praça entrevistou o médico, após o término de mais uma reunião do Rotary Club de Iguatu, entidade da qual participa desde julho de 2015. Na presença de seus companheiros de club, ele dividiu a novidade, emocionado. “Para mim, está sendo um momento alegre e especial. Significa muito, pois amo o Brasil que adotei como segunda ‘pátria mãe’ e ela me adotou como filho. Os anos de serviço prestados a esse país foram coroados com esse título”, disse.

O pedido de naturalização foi submetido à autoridade decisória em audiência presidida pelo juiz federal Luiz Praxedes que determinou a inclusão do nome do médico na portaria concessiva de naturalização. Depois de baixado o decreto e feita a publicação no Diário Oficial da União, o Certificado de Naturalização foi expedido. Os trâmites burocráticos duraram 1 ano, rápido, segundo o médico. “Para minha grata surpresa foi rápida em relação a casos que tomei conhecimento que duraram mais de três anos. Eles investigam toda sua vida por meio da Polícia Federal e Ministério da Justiça. Mas a burocracia valeu a pena”, contou.

Cidadão Brasileiro

Agora com o documento em mãos o médico usou o restante da semana para emitir documentos de uso do dia-a-dia de todo brasileiro como Carteira de Identidade e de Trabalho bem como Cadastro de Pessoa Física (CPF), título de eleitor e Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Cuba e Fidel Castro

No ano de 1991 formou-se no Instituto Superior de Ciências Médicas de Havana, cidade da qual é natural. O cubano pela primeira vez falou sobre sua saída da terra natal e sistema de governo de seu país implantado por Fidel Castro – falecido nessa semana -, o revolucionário cubano que governou a República por meio da ditadura socialista sobre comando do Partido Comunista.

Em posse do certificado de nacionalidade o cubano pode emitir a carteira de identidade – (Foto Divulgação/Mais FM)

“Até ontem nunca me posicionei politicamente sobre o meu país devido à minha condição de refugiado e por respeito. Afirmei e continuarei afirmando: sempre amei e vou amar Cuba. Não tem como sentir o contrário; é seu país, sua raiz e sua história. O sistema não funciona lá e nem funcionou em países mais desenvolvidos economicamente. Lamentavelmente não é o mais coerente. Existem violações que ferem os direitos humanos e essenciais de liberdade de expressão, ideológica, religiosa, de propriedade privada e livre comércio. Isso tem que existir em qualquer nação. Não desejo morte a ninguém, mas diante de Deus o que você faz aqui, você paga”, disse.

Médico com a certidão em mãos junto a sua esposa Patricia Bandeira – Foto Divulgação

O médico disse que os veículos de comunicação que atingem as grandes massas distorcem a realidade de Cuba. “A imprensa mostra muitas vezes coisas que não são reais da situação social. Até acredito que lá se atingiu níveis de educação, saúde e no esporte. Muito devido a um capricho pessoal. Mas penso que se Cuba tivesse feito mudanças quando caiu campo comunista nos anos 90, não tínhamos o povo tão carente de liberdade democrática e de estado de direito escondido sob uma venda que te esconde à informação real”, ponderou.

Na terra em que nasceu Madrigal, no seu primeiro matrimônio teve dois filhos um de 25 outra de 18 anos.

Refugiado

Para ficar no país Dr. Jorge recorreu ao visto permanente de cidadão, só atuou profissionalmente depois de passados dois anos de sua chegada ao Brasil quando conseguiu fazer a prova de revalidação de seu diploma acadêmico. “Cheguei ao Brasil, atraído pela imagem e impressão que tinha a distância de um país democrático e livre, como de fato é. Independente das diferenças ideológicas e políticas, Cuba e aqui se parecerem em alguns pontos. Música e esporte foram pontos que me aproximavam muito”, lembrou.

Antes de chegar ao Brasil, o médico rompeu fronteiras desembarcando inicialmente no ano de 1999 para trabalhar no Chile e depois na Bolívia, chegou ao Brasil num trem, escondido por Corumbá no Mato Grosso do Sul em 4 de dezembro de 2002. “Fugi motivado por circunstâncias ideológicas e políticas. Mas hoje posso dizer que moro numa nação livre e que respeita minhas liberdades e direitos. Fui refugiado político e desde sempre no Ceará sou tratado com carinho. Hoje mais do que nunca me sinto realizado como profissional e membro da sociedade”.

Saúde

Referência mundial em medicina, Cuba se destacou por fornecer profissionais da área a cidades de todo o país por meio do programa Mais Médicos do Governo Federal. O intuito da época era de amenizar o caos da saúde pública.

O agora brasileiro se demonstrou à vontade em também se posicionar sobre problemas locais. “Acredito no serviço público. O grande problema não são os profissionais. Apesar de muitas vezes sermos intitulados de mercenários. Trabalhei nas mais variadas instituições. A péssima distribuição de recursos é sim o principal culpado. E tende a piorar com o congelamento dos repasses. Temos que amadurecer e parar de jogar a culpa nas esferas que o não os correspondem”, disse.

Iguatu

No Iguatu foi o primeiro estrangeiro a ser agraciado com o título de cidadão iguatuense no dia 05 de junho de 2012. Com quase 50 anos sua rotina de vida se volta para o trabalho e sua nova família construída com sua esposa Patrícia Bandeira com a qual tem dois filhos, Jorginho e Sofia. A missão pessoal do momento, segundo Madrigal, é melhorar o sotaque. “Tenho que aperfeiçoar um pouco mais pra conseguir o ‘cearês’ na plenitude. Mas o que importa é hoje poder dizer: sou havaneiro, brasileiro, cearense, iguatuense, torcedor da ADI (Associação Iguatuense de Futebol) e Flamenguista e amo todos eles”, brincou.