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AMERICANDO: A fazenda de enganos dos tolos

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 Parte final

 

“Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar”

(Apesar de você, Chico Buarque).

 

O Corvo Vesgo, a Capivara que arrastava o Bucho no chão e um Burro Gordo e tonto que havia chegado logo após a saída do Velho Cavalo Manco e a morte do Carneiro, estavam agora na direção da pequena fazenda na floresta de enganos, enganos deles, pobres tolos e egoístas… A convite do Corvo Vesgo chegou um Coelho Caolho, cego da vista esquerda e cheio de furúnculo para ajudar o Corvo Vesgo em suas mentiras, projetos cruéis e trapaças.

O Burro Gordo era um verdadeiro pau mandado do Corvo Vesgo e fazia tudo que este pedia. A Capivara que arrastava o bucho no chão continuava com o falso moralismo de sempre e com toda a disposição para continuar fazendo o trabalho sujo e hipócrita que ceifou a vida do Carneiro. Tudo permanecia muito parecido como antes, sob a administração do Velho Cavalo Manco.  O Coelho Caolho e cheio de furúnculo era também um babão de primeira do Corvo Vesgo. Disposto a matar e morrer para fazer o trabalho sujo na fazenda da pequena floresta sob administração do Corvo Vesgo.

O Gavião cansou-se e preferiu ir embora da pequena fazenda. O Lobo das Montanhas viu que os trabalhos iam ficar mais difíceis para ele sem a companhia do Gavião. Assim a vida seguiu…

O ambiente na pequena fazenda da floresta ficou bem complicado para o Lobo que não vivia com bajulação com os administradores da fazenda. O Corvo Vesgo fez uma reunião com alguns bichos para ajustar alguns trabalhos. O Lobo das montanhas pontuou algumas coisas, falou criticamente por outras, porém se dispôs a ajudar. O Corvo Vesgo demonstrava concordância com tudo que ouviu na frente do Lobo.

Dias depois o Corvo Vesgo em conluio com o Coelho Caolho, cego da vista esquerda e cheio de furúnculo induziram uma Pata, uma Galinha, uma Gazela, uma Coruja, uma Cabrita e uma Égua a fazerem graves acusações contra o Lobo das montanhas. Elas induzidas pelo Corvo Vesgo e o Coelho Caolho, cego da vista esquerda e cheio de furúnculo, diziam terem sofrido ameaças do Lobo. Segundo elas o Lobo era rude e muito intimidador para com elas. Ainda disseram que o comportamento do Lobo dava indícios que logo, logo o Lobo iria devorá-las. Tais acusações magoou muito o Lobo das montanhas. A Pata certa vez estava sendo oprimida por uma Cabra e o Lobo foi ajuda-la. A Galinha em outra ocasião foi salva das garras de uma raposa cruel pelo Lobo que a livrou no último instante e fez a raposa fugir. Em outra a Gazela desrespeitou um Jacaré que não a devorou porque o Lobo das montanhas respeitosamente pediu ao Jacaré para relevar. A Coruja também ia ser dispensada da fazenda pelo Cavalo Manco certa vez e o Lobo das montanhas o convenceu a não fazer isso. A Cabrita também teve certa vez ajuda do Lobo das montanhas. Ela estava um dia já nas garras de uma onça da selva quando o Lobo das montanhas a livrou. A Égua assim como as outras foi também ajudada pelo Lobo das montanhas nos trabalhos diários na fazenda.  Mesmo assim, com todas as ajudas já recebidas pelo Lobo das montanhas, todas elas acusaram o Lobo das montanhas induzidas de forma covarde a mentirem pelo Corvo Vesgo e o Coelho Caolho, cego da vista esquerda e cheio de furúnculo. Toda a trama para acusar o Lobo das montanhas também tinha a ciência do Burro Gordo e tonto e da Capivara que arrastava o bucho no chão. Toda essa trama, o silêncio dos demais animais da fazenda que temiam os administradores, muito magoou e deixou o Lobo das montanhas indignado, perplexo e sem mais vontade de continuar vivendo na fazenda…

O Corvo Vesgo era um mentiroso contumaz, um egocêntrico burro e com muitos sonhos de grandeza. Ele achava que possuía uma capacidade mil vezes maior do que a que tinha…. Mas, como era sabido por todos, quem não lhe bajulava ele perseguia.  O Lobo das montanhas apôs esses acontecimentos, passou a refletir um pouco frente as acusações que recebera; foi diante do Corvo Vesgo, da Capivara que arrastava o bucho no chão e das que lhe acusavam. Com olhos fixos, sério, cheio de angústia e raiva frente ao teatro hipócrita criado para lhe prejudicar, disse que nunca faria mal a nenhum deles, porém a desconfiança pairava sobre ele, logo, a partir daquele dia ele não mais trabalharia ali. Também ressaltou que eles parassem com tais acusações, caso contrário ele, o Lobo das montanhas, iria começar a agir diferente do que havia agido até então. Antes de sair para as montanhas o Lobo agradeceu pelo tempo que havia ficado na fazenda e saiu…

O Lobo das montanhas preferiu ter paz do que razão, entendeu porque alguns seres são tão mesquinhos, ridículos, hipócritas, invejosos, falhos de entendimento e pequenos em honra, logo não mereciam sua companhia. Saiu de forma singela e rosto fechado. Percebeu que certo temor pairava nos bichos que lá iam continuar sob a administração de reles incompetentes que nada sabem, mas acham que tudo sabem e podem… Ainda refletiu quando saia: “Um Lobo não usa coleira como cachorros, não fica no aprisco como as ovelhas e nem trabalha no circo como os leões”. Entrou floresta adentro em direção as montanhas. Ouviu o som de um lobo que uivava, farejou, olhou para a pequena floresta, que havia acabado de deixar para trás, e disse consigo mesmo essas palavras antes de ir em direção às montanhas: “Eu vou olhar em seus olhos e perceber sua contrariedade em descobrir que você se dobra ao pragmatismo, mas eu não… Você finge um ideário que nunca teve, mas improvisa com ares de ter, contar e recontar histórias fictícias que de tanto você contar parece verdade pra você… só pra você… Digo mais, é um prazer ver sua contrariedade, nem fingir você sabe e não concordar com você e seus métodos covardes é uma honra que me traz uma felicidade enorme…. Até a angústia que por acaso seus métodos em querer me afrontar, muito me serviu, pois ela não passou de um arroubo, arroubo juvenil e covarde, até porque sua cara não apareceu no momento que suas armadilhas inutilmente tentaram me atingir…. Não só é cômico, ridículo, mas essencialmente síndrome da vergonha alheia em alto grau, é o que sinto quando vejo sua cara pálida, cínica e contrariada…. Eu sei que você sabe, eu sei que você sabe que eu sei e eu sei que nós dois sabemos que sabemos…. durma bem…

É um prazer não ser pragmático, legalista, hipócrita, covarde e mequetrefe como você…. cara pálida assustada pela própria covardia que sabe que fez…

 

Por Américo Neto

Contato: zeamericoneto@hotmail.com

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