Americando
AMERICANDO: A itinerante fábrica de ódio

“Por tanto tempo
Eu fiquei sozinho
Pelo jornal
O mundo acabou”
(Letras Negras, Fausto Nilo, Geraldo Azevedo).
Em determinado dia fui em uma igreja e ouvi atentamente uma pregação em que na exposição do pregador, Deus era a favor da pena de morte. Em programas de entretenimento e redes sociais presenciei figuras racistas, machistas, ignorantes, orgulhosas disso e falhas de inteligência e caráter serem o centro das atenções. Proferiram frases feitas e encantaram entusiasticamente a todos os telespectadores ouvintes. O patriotismo aliado à religião que se representou e ainda se representa tão somente em discursos de bons costumes, por parte de figuras não somente suspeitas, mas de mal caráter comprovado, foi e continua sendo uma tônica. Ainda observei o ódio brotando em cada esquina, rua, casa, famílias perdendo os vínculos, amizades de anos sendo desfeitas, pessoas matando por discordarem das opiniões de outras, muitos deixando as igrejas que aos domingos iam e a peste matando milhares em todo país… Foi assim, infelizmente, mas outras coisas também aconteceram…
Sobre pena de morte andei pesquisando e lendo muitas coisas, sobretudo o Livro Sagrado. Algo me chamou a atenção em uma passagem: “Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?” (Mateus 26: 52-53). Parece-me que o filho de Deus tem uma ideia diferente sobre a pena capital. Vamos lá… pode-se argumentar que Ele veio cumprir o propósito e nada podia ser diferente do já predestinado. Certo, concordo e creio, porém… o trecho: “[…] porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão”. Aqui fica claro, pelo menos para mim, rapaz latino, sem parentes importantes, sem teologia, do proletariado e de forma proposital inconformado com o pragmatismo legalista das instituições; Jesus não queria a morte de ninguém, não era a favor da violência. O líder religioso falava como um animador de torcida, entusiasmado, com arroubos de adolescente e cheio de certezas frente a exposição bíblica de algo que, ele entendia ser um estatuto de Deus, embora o próprio Cristo tenha sido vítima de tamanho infortúnio. Ele usou a seguinte passagem para justificar: “Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal.” (Romanos 13: 3-4). Lembro-me bem que ele dizia “A autoridade virá com espada sobre ti!”. Tudo isso para justificar a pena de morte. A metáfora da palavra espada na passagem, pode também ser separação ou uma hipérbole, até porque na sequência do texto há a transcrição do mandamento “Não matarás”: “Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” (Romanos 13: 9). Era o início de 2018, nessa época o que estava em moda era o jargão “Bandido bom é bandido morto”. Na própria Bíblia há uma história em que um irmão matou o outro e o próprio Deus colocou no homicida um sinal, para que ninguém o matasse. Deus não impôs a pena de morte. Lembrei-me disso…
Procurei ler, reler e indagar sobre se Deus de fato era a favor da pena de morte. Cheguei até a concordar de imediato duvidando de algo que aprendi ou sentia na minha fé desde criança ouvido e frequentando instituições religiosas. Fui abordar muitas pessoas que comungavam da minha mesma fé. Elas diziam o mesmo trecho da Bíblia que o líder religioso expôs. Não entendia aquilo, discordei, abandonei o prenúncio de concordância e vi que a cada dia as coisas só pioravam com o que via e ouvia as pessoas falarem ao meu redor. Presenciei outro dia uma adolescente, que também estava no dia da exposição do líder religioso, falando sobre pena de morte para um de seus familiares, que a pena de morte era bíblica, aliás, o ser “bíblica” tinha a conotação de preceito de Deus. Presenciei pessoas religiosas querendo comprar armas. Presenciei filhos de religiosos desafiarem com toda a falta de respeito professores em sala de aula. Uma falta de lógica acentuada e as fontes dessas informações eram mídias sociais que proferiam absurdos como “Escola sem partido”, “Kit gay”, “Mamadeira de piroca” e outros tantos fatos tirados com certeza do universo da terra plana. Assisti um vídeo desses canais que professaram e ainda professam tais ideias, e no vídeo um ideólogo dizia que a leitura não era importante. Ler na verdade era algo sem utilidade. Era a tônica do documentário. O fake news estava com tudo! Ainda está!
Confesso que demorei para entender. O pior é que se você tentasse explicar por método científico e comprovar com fatos, reportagens, notícias, artigos e livros não adiantava. Foi um caos, mas a mentira não conseguiu esconder mais de 700 mil mortes da pandemia. Absurdos multiplicaram-se a ponto de “alguém” incitar o povo a invadir os hospitais para tentar comprovar que as mortes não eram por covid. Demorei a entender que os fanáticos morrem com o mito que criam ou se fortalecem na ilusão, pois antes do erro aparente, eles se conduzem pelo desejo. E o desejo em questão era e continua sendo para alguns o ódio.
Surgiram notícias de mortes por opiniões políticas diferentes, fome, miséria, ataques constantes as instituições e uma total falta de lógica racional. Será se por falta de cognição ou projeto de alienação coletiva por parte de algumas figuras da política? O interessante é que os iludidos e cheios de ódio diziam algo como “Foi o único que bateu de frente com o sistema!”. Só não entendo, a mídia que os seguidores desse delírio coletivo mais criticavam e criticam foi a que teve um aumento de mais de 70% do governo que para eles era contra o sistema.
Ainda hoje revejo algumas entrevistas das figuras que representavam a ideia de paladinos da moral, dos bons costumes, defensores da família e etc. e tal. Ficou feio, muito feio, sobretudo para alguns líderes religiosos que vestiram a indumentária e deixaram a teologia pela política partidária. Encontrei o líder religioso certa vez pelo centro da cidade. Aquele que expôs que Deus era a favor da pena de morte. Ele olhou para mim assustado, até porque o “candidato de Deus”, segundo ele, perdeu as eleições de 2022 fazendo toda tramoia possível para vencer. No dia da eleição houve várias blitz, sobretudo na Região Nordeste, fato que com muita chance de certeza impediu muitos eleitores de irem às urnas. Isso nunca havia acontecido até então.
Enfim… passou…, mas não passou! O ódio paira, alguns poucos ainda resistem e o cenário futuro não é nada animador. A informação deixou de ser factual. Algo do tipo que um fanático a despeito dos fatos, não dá crédito a uma informação que contrarie sua ideologia odiosa. A ciência, os fatos, as imagens, as reportagens e os dados de pesquisas de órgãos oficiais não valem! Só vale o que circula nos grupos e mídias que os fanáticos consomem. Espero que a empatia cresça e brotem nos corações de todos os brasileiros. É um momento ainda difícil, perdi totalmente a vontade do vínculo com uma instituição religiosa e vejo que a cada dia é mais difícil tentar reatar esse vínculo, pois as ideias de muitos em algumas dessas instituições não mudaram, apenas dormem esperando um mito para reanimá-las. Isso muito me marcou, a falta de senso e empatia veio principalmente por parte daqueles que eu entendia serem os que tomavam parte diferente no processo. Muitos deles julgam-se iluminados, esclarecidos e “homens de Deus”. O momento não é para festa, temos que refletir com todas as forças. Recentemente um homem-bomba morreu na Esplanada dos Ministério após a explosão de bombas que ele mesmo trazia. Suicídio, de fato. As big techs e fake news podem nos dar um cenário dantesco em um futuro próximo. Temos que refletir, o ovo da serpente nasceu e outros estão na estufa. Estamos nos tornando uma fakelândia.
Por Américo Neto.
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