Saúde
Ansiedade coletiva
Mente agitada, coração palpitante, respiração curta e mãos frias são sensações físicas cuja origem pode ser psicológica, ou seja, da ansiedade, gerada e supervalorizada na contemporaneidade. Paciência se tornou artigo raro e, em meio ao ritmo acelerado, o urgente tem sido palavra de ordem para as ações mais corriqueiras. Esse comportamento coletivo em transformar os excessos em algo comum vem fazendo da ansiedade doença e do ato de parar, uma necessidade para viver.
Isso porque ao ultrapassar o limiar da normalidade (que varia de pessoa para pessoa), as sensações provindas da ansiedade podem vir acompanhadas de tremores, tensões musculares, problemas psicológicos, pânico, interferindo na funcionalidade do indivíduo no trabalho, na família e na vida social.
Daí a necessidade de investigar os sintomas e tratá-los. “O diagnóstico correto é fundamental, pois medicar um sentimento normal é tão inadequado quanto não tratar um quadro de ansiedade patológica”, esclarece a psiquiatra Valéria Barreto Novais e Souza, doutora em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e MPhill (Master of Philosophy) em Psiquiatria pela Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Resposta ao estresse
Segundo a especialista, esse estado intrínseco à humanidade pode se tornar transtorno de ansiedade generalizada (TAG) caso se intensifique e se prolongue por mais de seis meses. A doença decorre do mau funcionamento de resposta ao estresse e é constituído de padrões comportamentais ou psicológicos clinicamente relevantes associados a sofrimento, incapacitação ou alto risco de dor, deficiência ou perda da liberdade.
“As principais características do TAG incluem hipervigilância, ansiedade excessiva, tensão muscular, tremores, palpitações, entre outras. Os pacientes relatam preocupações ou ‘pressentimentos ruins’ relacionados a questões da rotina diária (trabalho, família, situação financeira e saúde). É comum referirem medo de que algum ente querido possa sofrer um acidente ao sair na rua ou ser demitido do emprego, mesmo sem motivos para que isso aconteça. A intensidade, a frequência e a duração dos sintomas são desproporcionais à real probabilidade e impacto do evento. No curso do transtorno, é comum a preocupação mudar para outro foco”, diz a médica.
A influência do meio
Fatores internos podem auxiliar nesse processo ou sofrerem com ele. “Indivíduos com TAG registram taxas metabólicas elevadas nos lobos occipital, temporal e frontal, assim como no cerebelo, no tálamo e nos gânglios da base, o que sugere que podem existir circuitos cerebrais hiperativos. Além disso, há evidências crescentes de alterações nos sistemas de neurotransmissores”.
O meio também fornece elementos que agravam o quadro de ansiedade. Afinal, é um estado coletivo. Violência, estresse, insegurança, agressividade gratuita estão entre os eventos sociais associados. Já fatores familiares e genéticos estão relacionados aos transtornos de pânico como ainda às fobias. A superproteção e a rejeição dos pais são exemplos de atitudes que não irão preparar as pessoas para agir diante das vicissitudes da vida.
Pesquisas
Estudos populacionais (National Comorbidity Survey/NCS e Epidemiological Catchment Area/ECA) demonstram que o TAG pode gerar prejuízos no funcionamento psicossocial do indivíduo, resultando em maior procura por serviços médicos e uso de medicações.
A comorbidade do TAG com outros transtornos aumenta o nível de comprometimento. Cerca de 48% dos pacientes com TAG e depressão registram seis dias/mês de falta ao trabalho ou sérios prejuízos sociais. O grau de perdas e o sofrimento é semelhante ao apresentado pelas doenças somáticas crônicas.
Fonte: Diário do Nordeste