Dia-a-Dia com Maria: Grota, de Macunaíma a Alexandre Grota

Em sua lente preciosa e rara, Mário de Andrade capta o âmago de um povo mesclado, aculturado e sem muito senso de escrúpulos: o cerne brasileiro. Disso, nasce Macunaíma (1928), o herói sem caráter, individualista, preguiçoso e faz o que deseja sem se preocupar com nada. Além disso, é vaidoso, mente com a maior facilidade e gosta, acima de tudo, de se entregar aos prazeres carnais.

O personagem do Modernismo nasce à margem do Uraricoera na Floresta Amazônica e já manifesta uma de suas características mais fortes: a preguiça. Desde pequeno ele busca prazeres amorosos com a mulher de seu irmão. Do próprio mano!

Não suportando suas traquinagens, a mãe o abandona. No meio do mato, encontra o Curupira, que arma uma cilada para o herói, da qual acaba escapando por preguiça de seguir o falso conselho do Curupira.

Disfarça-se, engana, viaja por todo o Brasil, embrenha-se na macumba, retorna da viagem e escreve a famosa “Carta para as Icamiabas”, onde retrata as mazelas da vida paulistana.

(…)

Macunaíma é um simples brasileiro em todas as nuances, daqueles legítimos, que desfruta do que se tem de melhor e de pior: lazer, leis frouxas, vida que pode ser levada desregradamente…

O personagem, depois de uma surra, gasta o tempo aprendendo as difíceis línguas da terra: “o brasileiro falado e o português escrito”. Nesse seu desarvoro, também é enganado, sofre, termina sozinho contando sua vida a um papagaio.

Oitenta e oito anos depois da publicação da obra de Mário, o Brasil é atropelado vem um Golpe do Governo Federal e Temer entra no Poder tão espontâneo quanto um parto fórceps. Em sua comitiva, traz o clone de Macunaíma em forma de músculos morenos, tatuado, português chiado e muita bomba: GROTA!

Gasto pela mídia que não o tolera nem o vê com bons olhos, personagem que enodoou páginas de revistas e jornais com sua inutilidade social, boca nada santa, estilo sensual, ator de sucesso questionável, aliás, o dito cujo coleciona uma penca de “EX”: quase ex-ator (ex da Globo), ex- diretor, ex-modelo, ex-comediante, ex-jogador de futebol americano,ex-ator pornográfico brasileiro…

Atualmente, GROTA é um dos militantes do PSC, mesmo partido do deputado federal Jair Bolsonaro (radical, puritano e insolente), marcado com arengas e chiliques.
Esse link da política “desconjuntada” representa a mídia fabulosa, ridícula e tão obcena quanto à atuação artística do “Macu” da era Temerária, esse Juan de temperamento polêmico, metido a valente e sem filtros, para o qual deve ter sido um avanço destacar-se nesse tempo de chafurdo diga-se até que como pano de fundo ele bem representa o paradoxo moral que estamos vivendo. De um lado, um povo atordoado pelo sucateamento político, quando se pensava que “golpe” fosse página virada da nossa história. Do outro, escapistas da legalidade, passando por cima de tudo e de todos e mantendo no poder um Governo que vem murchando a bola dos sonhos dos brasileiros que viram o país melhorar dentro de apenas uma década.

Macunaíma grita fora da jaula em forma de Alexandre que, de imperador nada credita, mas tem se arvorado de pseudomoralista para denegrir os esquerdistas, os menos assistidos, o Brasil em maioria. Um Macunaíma que certamente terminará os dias em algum lugar deste país continental até quando o capital estrangeiro permitir e que cabe de um tudo, passando para algum jornalista em fim de carreira, seu final que não se encaminha para erguer o Oscar como prêmio. Mas aí deverá ser apenas mais um “ex”: ex-aspirante!