Regional
Em carta, detento pede caderno e caneta a professor em Juazeiro do Norte
Dos 42 alunos para os quais o professor Ciswal dos Santos ministra aulas na Penitenciária Industrial Regional do Cariri (Pirc), em Juazeiro do Norte, um deles o surpreendeu em uma das aulas. O detento escreveu uma poesia e, ao final do texto, fez um pedido: “peço que, se der, mande-me um caderno e uma caneta”, dizia o bilhete.
O texto foi escrito em um pedaço de papel higiênico. “Vi um texto enorme e uma poesia. O que mais me surpreendeu não foi nem o fato de ter escrito no papel higiênico, foi o pedido dele. Na carta ele pedia um caderno e uma caneta. Segundo ele isso seria uma forma de se libertar. Seria um raio de luz para se libertar daquela escuridão que ele estava vivendo ali dentro”, lembrou o professor.
O pedido foi realizado. No dia seguinte, Ciswal levou canetas e um caderno para seu aluno. O presente foi à altura da carta escrita pelo detento, o professor escreveu um recado na primeira página da caderneta. “Espero um dia comprar um livro escrito por você meu amigo”, encerrou a carta.
Mudanças através da educação
Ciswal dos Santos é professor de Ciências da Computação e foi destaque ao ser selecionado para estudar em uma das mais prestigiadas instituições educacionais do mundo, a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Porém, para chegar a Harvard, Ciswal teve que trabalhar pesado, acordando cedo, trabalhando em supermercado e catando latinhas depois das aulas.
Nascido em Pernambuco, o jovem veio para o Ceará com 12 anos de idade. Além de ensinar em um colégio no Município e em escolas de ensino técnico da região, o professor vem desde o dia 10 de junho lecionando na penitenciária, pelo projeto “Sou Capaz”.
“Percebi com essa carta que mesmo nesse submundo da escuridão, em que esses homens vivem, existe luz, só precisa que alguém estenda a mão e mostre o caminho de uma vida nova e totalmente renovada”, ressalta.
Ele ministra aulas sobre montagem e manutenção de computadores na Pirc. “Agora você imagina ensinar linguagem de programação para alguém, onde o mesmo é analfabeto, metade da turma não sabe ler nem escrever”, explicou. Para chegar aos detentos, Ciswal teve que adaptar suas aulas para um ensino mais lúdico e simbólico.
Hoje, o professor revela que 90% dos alunos já sabem desmontar um computador, formatar, instalar software e fazer reparos eletrônicos. Sobre o pedido, conclui, “isso é gratificante. É a prova de que somos capazes de mudar. Quero provar que realmente através da educação somos capazes de fazer essa mudança no destino do nosso Brasil”.
Fonte: Diário do Nordeste
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