Em meio à pandemia, quadrilhas juninas se reinventam para manter a fogueira do São João acesa

É difícil contestar: a festa junina é uma das mais agitadas e gostosas épocas do ano. Com muito forró, comidas típicas e brincadeiras, o São João é bom de se comemorar em conjunto. No entanto, a pandemia de Covid-19 forçou a sociedade ao isolamento social e a evitar aglomerações como uma medida de proteção. Com isso, o mês de junho perdeu o seu principal atrativo: os festejos de São João no meio da multidão.

Assim, as quadrilhas juninas precisaram se reinventar para manter a tradição viva, mesmo que digitalmente. “É muito triste para os grupos saberem que eles não vão conseguir colocar seus trabalhos em quadra durante o ano de 2020. Mas, o movimento junino é muito criativo, muito eclético”, comenta Anderson Assunção, diretor da Federação das Quadrilhas Juninas do Ceará (Fequajuce).

Ele conta que muitas quadrilhas decidiram investir em transmissões ao vivo (lives) nas redes sociais para manter a empolgação do público. Nelas, os grupos organizam momentos de música, histórias importantes dentro do movimento junino e até “causos engraçados” de integrantes. Muitos aproveitam para fazer arrecadação de alimento e recursos para doações durante a pandemia de Covid-19.

Exemplo é a Quadrilha Junina Babaçu que tem promovido lives desde abril no Instagram @juninababacu com cursos de automaquiagem, shows musicais e até conversa com os noivos do grupo. A tetracampeã aproveitou para publicar no YouTube uma interpretação da música Lembrando de Você, de Joãozinho do Exu: “Esse é o primeiro São João que eu passo sem te ver”, cantam Cynara Beatriz e Davi Ramos, acompanhados de um sanfoneiro vestindo máscara de proteção.

Já outras quadrilhas, cita Anderson, decidiram exibir apresentações anteriores nas páginas digitais, além de também promoverem concursos online de Rainhas da Diversidade. O objetivo é manter o espírito positivo até os órgãos de saúde autorizarem o retorno de espetáculos e manifestações culturais. “Há esperança de que ainda seja realizado alguma coisa no sentido de comemorar o São João, a vida, mesmo fora do período junino”, menciona o diretor.

Possibilidade de São João fora de época

Anderson se refere à recomendação administrativa enviada à Secretaria de Cultura do Ceará (Secult) em abril deste ano, pelas União Junina do Ceará, Federação dos Eventos Juninos e Culturais do Ceará (Fejuc) e Federação do Movimento Junino do Interior do Ceará (Mojuni).

No documento, os órgãos representativos aconselham a pasta a revisar o cronograma do edital e considerar a possibilidade de comemorar o São João “fora de época”, a ser definida com a secretaria. A possibilidade de uma nova data também seria importante já que o processo de confecção de figurinos, cenografias e montagem das coreografias estão paralisados, “inviabilizando a sua execução no período convencional do São João”.

Outro pedido é que a Secult mantenha a aplicação dos recursos do XXII Edital Ceará Junino 2020 para custear as despesas já realizadas pelas quadrilhas juninas e promotores de eventos juninos. Os grupos ensaiam e produzem vestimentas, por exemplo, desde janeiro.

Muitas quadrilhas precisaram cancelar as apresentações e aguardar 2021 para voltar às ruas. É o caso da Junina Trem Maluco (JTM), de Pentecoste (CE), que iria homenagear Irmã Dulce no tema de quadrilha “O anjo bom do Nordeste”. Em 2019, o grupo foi campeão do Ceará Junino Litoral Oeste e do Sesc Junino Litoral Oeste. “O coração de cada quadrilheiro aperta nesse momento! Fiquem com Deus e fiquem em casa!”, recomendou a JTM em comunicado nas redes sociais.

Arraiá digital

Por outro lado, há quem planeje o maior arraia da historia, como a plataforma musical brasileira Sua Música. A partir desta quinta-feira, 4, até dia 30 de junho, a empresa irá promover o Sao Joao de Todos, com mais de 40 atrações confirmadas, envolvendo shows musicais, aulas de dança e brincadeiras nas redes sociais. A estreia do festival será amanhã a partir das 18h nas redes sociais do Sua Música, com apresentações de Siranim, Sirano & Sirino e a banda Mastruz com Leite.

Fonte: O Povo