Grávida enfrenta dificuldade para dar à luz; entenda riscos da obesidade na gravidez

Diz o ditado que ser mãe é padecer no paraíso. Algumas delas, no entanto, padecem antes mesmo de seus filhos chegarem a este mundo. Esse foi o caso da dona de casa Raquel Patricio, 32 anos, moradora de São Caetano. Obesa, ela teve dificuldades para dar à luz seu terceiro filho na rede pública da cidade do ABC paulista, que não tinha infraestrutura para receber uma mulher de 160 quilos.

“Fiz todos os exames pré-natal e minha saúde estava em dia. Meu obstetra orientou a cesária porque eu queria fazer ligamento das trompas e me encaminhou para o Hospital Euryclides de Jesus Zerbini”, explica Raquel. No dia e horário marcados, Raquel foi informada que não poderia dar à luz no local por falta de uma maca que comportasse seu peso e agulhas específicas para ela.

“Fiquei nesse impasse durante horas até que uma amiga decidiu falar com a imprensa. Foi aí que resolveram meu caso”, conta Raquel. A solução, segundo a dona de casa, foi pegar uma maca emprestada da ala de cirurgia bariátrica, o que causou o adiamento da cesária em um dia. Já as agulhas não foram necessárias pois a equipe médica decidiu usar outra forma de anestesia. Raul nasceu saudável e a história teve um desfecho feliz, mas chama atenção para o preconceito e tabu que permeiam a vida de pessoas obesas.

Raul, filho de Raquel (Foto: Reprodução/Instagram)

“As pessoas acham que todo gordo fica em frente à TV tomando Coca-Cola. Durante a gravidez meu médico não acreditou que eu não tinha diabetes gestacional e pediu para repetir o exame”, afirma a dona de casa. “Existe um grande estigma social relacionado ao excesso de peso”, analisa Renato Zilli, médico endocrinologista do Hospital Sírio Libanês.

O estigma tem base nos dados oficiais da OMS (Organização Mundial de Saúde), uma vez que a obesidade pode estar relacionada à hipertensão, diabetes e alterações do colesterol e é a sexta maior causa de mortalidade do mundo. “Não é um sinal de negligência estar acima do peso. A relação com a obesidade pode ser negligente; é diferente”, pondera o endocrinologista.

Negligencia, no entanto, não é uma palavra presente no vocabulário de Raquel. Formada em nutrição, quem acompanha seu Instagram sabe o cuidado que ela tem com sua alimentação e de sua família. “As pessoas veem o que eu como e me perguntam como eu posso ser gorda. Pois é, a medicina ainda não sabe tudo e alguns corpos se comportam de maneiras diferentes. Para eu ser magra teria de ter uma dieta de fome”, analisa.

“A gestante obesa apresenta, estatisticamente, maiores riscos para o desenvolvimento de doenças e complicações tanto durante a gestação quanto no parto. Seu acompanhamento deve ser realizado com maior assiduidade e o ganho de peso durante a gestação deve ser adequado”, explica Paola Fasano, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz.

Como explica a dra. Paola, é fundamental que a futura mamãe obesa tenha acompanhamento adequado. “Mesmo que a gestante acredite que sua alimentação é saudável, a orientação de um profissional da nutrição pode nortear o consumo adequado de calorias e a quantidade e tipo de carboidratos consumidos durante a gestação. A prática de atividades físicas é fundamental para o bom e adequado controle de peso na gestação – praticar exercícios físicos reduz a resistência à insulina, presente tanto nas gestantes com peso adequado quanto nas obesas”.

Independentemente de uma gravidez ou não, cuidar da saúde é fundamental, assim como ter acesso a todos os equipamentos de saúde. “As pessoas sempre vão te julgar de alguma forma, então nunca pense que a culpa é sua. Se eu fosse deficiente os médicos teriam de dar um jeito, então como eles não conseguem lidar com uma pessoa gorda?”, questiona Raquel. Para o médico endocrinologista, a raiz do programa é social. “Nossa sociedade não tem uma infraestrutura adequada para pessoas com obesidade mórbida”.

Fonte: YAHOO