Artigo

IGUATU: O que vivemos?

Published

on

Por Erick Willer – Historiador

Devo me desculpar pelo título do último artigo. O texto não possuía título, não tinha sido construído para ser público e foi uma escolha dos editores deste site.

De fato, menciono um elemento da conjuntura municipal que são os caminhos possíveis colocados em disputa nesses idos de início de setembro de 2023 e centro a minha crítica a uma alternativa.

Logo no início do texto falo dos cacos aos quais a cidade se encontra. Todos que passam pela obra da Avenida Perimetral são alvo desses cacos ao transitarem na via. Há também algo semelhante em tantas vias.

Serve também para ilustrar o desmanche de qualquer tipo de condição da prefeitura municipal em lidar com o que é municipal. Minha intenção foi deixar uma pista sincera sobre o que vivemos agora em Iguatu.

Para agradar os leitores, ou desagradá-los, se for o caso, permitam-me neste canal aberto pela Mais FM para nosso diálogo, fazer algumas observações sobre a atual gestão.

Acho um pressuposto muito significativo é que é preciso explicar para pessoas que não vivem aqui e até para as que vivem o que se pode chamar de governo municipal neste nosso momento.

Existe uma parcela significativa de moradores que não compreendem os processos que levaram Ronald Bezerra à prefeitura. Há ainda quem nem sabe quem é o prefeito. Falta clareza do regime jurídico e político e sobra a certeza de que tanto faz.

Valorizo a sutileza de um sábio deixada pelo historiador José Murilo de Carvalho, que recentemente nos deixou, o qual observa, no contexto da Primeira República, que o povo, ao não se reconhecer ou não participar da vida pública, produz no distanciamento da vida política a astúcia, ácida e crítica, da raiz da questão: para nós nada muda.

A cidade de Iguatu, nesta conjuntura de anormalidade institucional, apresenta uma crise estrutural complexa no que se refere à capacidade do governo municipal em garantir o bom serviço dos serviços públicos, o desenvolvimento econômico e a diminuição das desigualdades. Dois outros aspectos relevantes são o desmonte ou abandono dos espaços de participação cidadã e a crise de representatividade na Câmara Municipal.

Neste cenário de terra arrasada, temos uma conjuntura política inusitada que se complexifica na substituição sucessiva de representação no poder executivo. O prefeito eleito em 2020, Ednaldo Lavor (PSD), foi cassado e parece não ter conduzido com zelo republicano a tarefa à qual lhe foi confiada.

Ednaldo se tornou um aparente elemento inexpressivo (embora não seja) diante do desgaste de não ter tido capacidade de gerir o peso político da derrota do grupo de Agenor Neto (MDB) nas eleições e nem de garantir qualidade de gestão. Ao contrário, o cenário deixado às vésperas da cassação nos trouxe a uma atual ingerência do aparelho municipal diante da ineficiência de vários serviços, inclusive afetando pagamento de salários dos servidores. O mais grave fator é simbolizado na situação do Hospital Regional.

Enquanto aguarda recurso, Ednaldo foi substituído pela sua esposa, a então, na época, presidente da Câmara de Vereadores, Eliane Braz (PSD), que foi eleita Deputada Federal. Eliane foi então substituída pelo próximo na linha sucessória da Câmara, Ronald Bezerra (Republicanos), que se tornou Prefeito Interino. A presidência da Câmara de Vereadores foi então assumida por Marconi Filho (PDT).

Diante deste elemento determinante, qualquer pessoa a assumir tal tarefa teria que lidar com desafios complexos, que hoje assumem a característica de notadamente reconstruir a estrutura da cidade.

O atual governo sabe disso e conta com a sorte na aposta da execução até 2026 do empréstimo de US$ 38 milhões de dólares (cerca de R$ 206 milhões de reais), entre o município e a Corporação Andina de Fomento.

O valor deve ser destinado a serviços de infraestrutura urbana, como “sistemas de captação de águas, implantação de drenagem, obras viárias e construção de ponte, requalificação de espaços públicos, reabilitação da infraestrutura educacional, desenvolvimento e gestão ambiental, e fortalecimento social, de saúde e de cidadania”.

Parece sonho? Ou será pesadelo? De toda forma, temos pela frente uma dívida e tanto. Ainda que em um cenário muito idealista, a execução do financiamento seja um sucesso, que a cidade gere empregos e atraia indústrias e consiga qualificar o serviço público, estamos falando que, em seis anos, deveremos honrar US$ 38 milhões de dólares. Até agora, não se fala de onde.

Acredito que não bastam boas intenções, ainda que elas existam. A responsabilidade assume um caráter sério de compromisso com o desenvolvimento da cidade.

O ideal será que no próximo pleito, seja a hora que aconteça, tenhamos uma candidatura que represente a síntese de um pacto municipal de reconstrução da cidade. Uma candidatura que consiga expressar o avanço frente ao retrocesso. É por isso que amplos setores da sociedade devem se organizar em uma via de união frente à velha política.

Precisamos de alguém que defenda um projeto construído por muitas mãos que garanta representatividade política. A disputa pelo poder em Iguatu precisa qualificar e fortalecer os movimentos e organizações da sociedade civil, pois é essa esfera da sociedade que garantirá a execução cidadã da coisa pública e que tem a capacidade de desenvolver consciência crítica e emancipatória da sociedade.

Não podemos mais abdicar e não participar. Para mim, essa ideia é revolucionária. Ou tem potência. O fato é o fato. Não parte da vontade ou do desejo. Existe. É esta nossa tarefa. E tão cedo, nós, o povo em seu sentido amplo, nos percebermos enquanto elemento decisivo, constitutivo e coletivo da disputa pelo poder, mais cedo concluímos que todos temos interesses e por eles lutamos, e nessa luta é importante defender os ‘nossos’ e não exatamente os ‘meus’.

EM ALTA

Sair da versão mobile