Pela primeira vez, desde 1978, o Brasil começa temporada com apenas um piloto

Mão única na corrida pelo fim do jejum de 22 anos sem título, Massa lamenta o abandono e diz que crise do automobilismo é culpa da CBA.

 

Faltavam três anos para Felipe Massa nascer na última vez que o Brasil começou a temporada de 1978 da Fórmula 1 com apenas um piloto. Era uma época tão atípica quanto 2013. Se, recentemente, o Papa Bento XVI renunciou, na temporada em que Emerson Fittipaldi esteve solitário durante quase todo o ano — Piquet entrou no fim do Mundial — morreram dois chefes da Igreja Católica em um espaço de dois meses: Paulo VI, em agosto, e o sucessor João Paulo I, em setembro. Um conclave de três dias levou o polonês Karol Wojtyla, batizado de João Paulo II, ao Vaticano.

Homem de fé, Felipe Massa vai precisar da bênção do novo papa, o argentino Francisco, em 2013. A cruz sobre o ombro do paulista de 31 anos é pesada. Além de honrar a tradição do país octacampeão da Fórmula 1, o único brasileiro candidato ao título tem a missão de encerrar 22 anos de jejum. O último título foi em 1991, no tri de de Ayrton Senna. O tabu poderia ter sido quebrado em 2008 no GP do Brasil — o último daquele ano —, mas o inglês Lewis Hamilton abortou a consagração de Massa, em Interlagos, ao ultrapassar o alemão Timo Glock nos últimos metros e cruzar a linha de chegada em quinto lugar, colocação suficiente para levá-lo à conquista. “Quando soube que ganhei a corrida, mas perdi o título, comecei a chorar. Foi uma emoção super estranha, histórica, inédita na minha carreira, mas saí de lá como um vitorioso, sem velório”, comentou Massa à época.

O vice de 2008 aumentou a pressão e pode ficar insustentável neste ano devido ao tempo de contrato. O acordo de Massa com a Ferrari tem prazo de validade até dezembro. Ou seja, se o brasileiro não alcançar um desempenho minimamente satisfatório, o país corre o risco de ficar sem representante na temporada de 2014. Em 2012, Massa, enfim, deu sinais de recuperação do acidente sofrido em 2009 no treino do GP da Hungria. Mesmo à sombra do espanhol Fernando Alonso, ele foi o segundo piloto com mais pontos depois das férias de agosto da F-1. Com cinco belas provas, encerrou o jejum de pódios de quase dois anos, graças ao segundo lugar em Suzuka, no Japão.

A solidão de Massa, nesta temporada, poderia ter sido evitada com a presença de duas promessas. No entanto, Bruno Senna foi preterido na Williams e Luiz Razia não conseguiu patrocínio para pilotar a Marussia. Chateado, o piloto da Ferrari assumiu o papel de porta-voz da crise e elegeu a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) como culpada durante um evento no Rio. “Antigamente, em cada categoria, você tinha um piloto brasileiro correndo, por todo lugar. Hoje, é difícil você achar um único brasileiro. Isso tem a ver com a CBA. Tem muito trabalho a fazer pelo automobilismo”, atacou.

Apesar do calvário, Felipe Massa demonstrou um certo otimismo. “Vou me sentir um pouco sozinho, mas espero o máximo possível levantar a bandeira do meu país. A gente tem um potencial grande. O carro desse ano é mais estável e mais fácil de pilotar”, disse, no mesmo evento no Rio.

Fonte: Superesportes.com