Regional
Vida na zona rural apresenta ritmo mais calmo em comparação com centros urbanos

Apesar da perda do sentimento de segurança em muitos sítios e vilas rurais do Interior cearense, a maioria dos moradores dessas localidades diz gostar da vida tranquila que leva no campo, com menos barulho e corre-corre. São milhares de famílias que abrem mão de comodidades ofertadas nos centros urbanos por uma vida mais ligada à terra, à família, ao lugar onde nasceram pais e avós.
Nas três últimas décadas foi crescente o fluxo migratório campo-cidade. A cada pesquisa, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam essa tendência, que é mundial, e começou mais fortemente no século XIX com a consolidação da Revolução industrial. O capitalismo e a urbanização seguem juntos.
De acordo o IBGE, no Ceará, em 1960, na zona rural habitavam 66% da população. Em 1980, esse índice caiu para 46%, houve uma inversão que se acentuou nas décadas seguintes. A maioria passou a morar nas áreas urbanas. Em 2010, no último senso demográfico, apenas 25% moravam em áreas rurais.
Mudança
“A urbanização avança rapidamente e as nossas cidades seguem essa tendência”, observa o arquiteto e urbanista, Paulo César Barreto. “Não vejo reversão desse quadro porque a qualidade de vida é melhor nas cidades, onde há oferta de serviços que o campo não dispõe. Barreto vê um campo esvaziado em comparação com a década de 1970. “O crescimento de algumas vilas rurais decorre de um processo local de urbanização”.
Outra característica de quem habita o campo, na avaliação de Barreto, é apresentar uma idade mais avançada. “São mais idosos que por acomodação e costume permanecem nessas áreas. Os jovens preferem os centros urbanos em busca de trabalho e estudo, afastando-se das atividades agropecuárias, que nestes últimos anos, por causa da seca, estão cada vez mais adversas”.
Atrativos
A música “Deus e eu no sertão”, composta por Víctor Chaves e interpretada pelos irmãos Víctor e Leo, resume alguns dos sentimentos dos moradores das áreas rurais: felicidade, som da mata, trabalho com a terra, que é inspiração, sentimento de proximidade da natureza, dos parentes, casa simples e rede para dormir.
Na localidade de Morada Nova, zona rural do município de Iguatu, o número de famílias aumentou em comparação com quatro décadas passadas. É uma área isolada, distante 24Km da sede urbana. A maioria tem laços de parentescos.
“Aqui tem tudo da cidade: energia, televisão, telefone e mais tranquilidade”, justifica o agricultor Heliomar Felipe, 67. “Nasci aqui, me criei com meus avós e pais e daqui só saio para o cemitério ali ao lado”, completa.
Zilma da Silva, 69, já morou na cidade, mas retornou. “A gente se acostuma no lugar onde nasceu”, afirma. A presidente da Associação de Moradores, Maria Eliete de Melo, 38, diz que os moradores sempre justificam a decisão de morar na zona rural para fugir do estresse, do aluguel e da violência. “Aqui é muito calmo, tem energia nas casas, eletrodomésticos, sinal de Internet e os jovens todos têm celulares”, conta.
A professora Janete Melo, 33, não larga o celular conectado à Internet. “Não tenho vontade de morar na cidade”, afirma. “Tem transporte todo dia. Então é fácil ir e vir”. O produtor Cícero Felipe morou dois anos em São Paulo e decidiu retornar ao torrão natal. “É uma vida corrida, coisa de doido”, afirmou.
Ana Maria de Melo Neto senta todas as tardes no alpendre de piso elevado na casa que pertenceu ao bisavô, Solon Felipe. Logo se forma uma ampla roda de conversa entre os parentes. “Isso aqui é uma maravilha, gosto demais”, declara. Ela reconhece que os jovens, em busca de trabalho, estudo e diversão, preferem os centros urbanos.
Tranquilidade
No setor H do perímetro Irrigado Várzea do Boi, área rural do município de Tauá, na região dos Inhamuns, um grupo de famílias permanece em suas casas desde a década de 1970, quando o projeto foi instalado. “Aqui a gente tem uma vida tranquila, é perto do asfalto, da cidade e não troco essa calmaria por uma casa lá na rua”, disse Aureliana Marques de Souza.
Aneli e Ana Lúcia Venância, mãe e filha, também preferem a moradia na zona rural em razão da paz que o campo oferece. “Depois da luta de casa, no fim da tarde até a noite a gente se senta, conversa, toma café”, conta Ana Lúcia. “Não senti vontade de ir morar na cidade”, completa. As famílias que permanecem no setor H reconhecem, entretanto, que os jovens já saíram para os centros urbanos em busca de oportunidades.
O urbanista Paulo César Barreto observa que, nas cidades, houve uma expansão do centro urbano nos últimos 30 anos. “Áreas que no passado recente eram sítios, localidades rurais, hoje são bairros em expansão”, frisa. “Morar em regiões próximas das cidades oferece muitas vantagens: silêncio, tranquilidade, diferentemente de localidades distantes, isoladas, sem acesso a serviços básicos”, destaca.
Violência
No campo, há duas realidades distintas, que começam a conviver: a tranquilidade e a chegada da violência, que é crescente. Dependendo do local, os sertanejos praticamente perderam o sentimento de tranquilidade, que foi substituído pelo medo e desconfiança de quem chega próximo às casas ou passa nas estradas. A mudança foi rápida.
O temor agora é de uma criminalidade crescente que bate à porta das famílias do Interior, não apenas dos centros urbanos, mas da zona rural.
A criminalidade estendeu-se dos centros urbanos para as áreas rurais e essa realidade é extensiva a todas as regiões do Estado, com variantes de intensidade e modo diverso de ocorrência. Não é um fato isolado. Os casos mais comuns são de assaltos praticados contra moradores e comerciantes locais.
Há exceções, mas, na maioria dos sítios, os moradores têm relatos, lembranças de que algum vizinho ou conhecido que já foi vítima de assalto. A melhoria de renda das famílias permitiu aquisição de bens como motocicletas e smartphones, e a instalação de mercadinhos, lojas de confecções, na zona rural. Isso tem despertado a atenção dos ladrões e assaltantes.
As grades de ferro já são comuns nas casas da zona rural. O clima de insegurança também. São poucos os sítios que ainda preservam o sentimento de paz. Na localidade de Cajazeiras, em Iguatu, os moradores aproveitam a sombra e o clima ameno no fim de tarde para conversar, evitando permanecer à noite fora de casa.
“Ninguém imaginava que a violência ia chegar desse jeito nos sítios”, disse o aposentado Cândido Celestino Neto. “Não dá mais para confiar em ninguém”, finaliza.
Fonte: Diário Centro Sul
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